15/09/2013

Cledson Bauhaus: A tinta alquímica que produz música para os olhos


Olá Tripulantes! Como estão?

"A cor é o teclado, os olhos são os martelos e a alma é o piano, com as suas inúmeras cordas. O artista é a mão que toca o piano, emitindo esta ou aquela nota para provocar vibrações na alma."

A frase acima é do conceituado artista Wassily Kandinsky, um dos que moldaram a chamada Bauhaus, escola de vanguarda alemã e que legou parte do pensamento estético à contemporaneidade. Qual a relação da frase acima e a arte do nosso entrevistado? Além da homenagem em seu pseudônimo, Cledson Bauhaus exala música de seus desenhos e pinturas. Seu trabalho, repleto de linhas sinuosas que levam da figura ordenada para um caos explosivo nos convida a experimentar rápidas mudanças de sensações, como o partir de um tom baixo e suave para notas agudas em ritmo frenético. Música para os olhos!

Confiram a entrevista do artista Cledson Bauhaus, formado em Comunicação Social, artista visual, publicitário, blogueiro e, assumidamente, fanzineiro:



M.R.G: Quem acompanha teu trabalho percebeu sua aproximação com a ilustração para literatura infantil. Como é trabalhar com esse tipo de ilustração?

Cledson Bauhaus: Tem sido um desafio diário, algo novo no meu mundo.  Sempre fui mais influenciado pelas histórias em quadrinhos, animação e vídeo games. Com a idade e formação acadêmica (Comunicação Social), veio a literatura e o cinema. Aprendi a deixar a vida acrescentar as novas referências, em vez de ficar fechado em um mundinho nerd e limitado.
Trabalhar com a ilustração infantil, tecnicamente falando, é a mesma coisa das outras linguagens. Há o mesmo trabalho e dedicação com as técnicas de desenho e pintura. O que muda é que você precisa de fato ilustra o texto, trabalhando em sintonia com a narrativa, proporcionando uma leitura visual (sugestiva as vezes) daquilo que está na história do livro. Essa arte não precisa ser tão descritiva como nos quadrinhos seguindo o roteiro, mas deve de certa forma, estar amarrada ao texto. Você é o co-autor da obra, e não simplesmente um desenhista que foi pago por algum selo editorial, tipo Marvel ou DC.
Além de tudo, é deixar fluir os sentimentos ingênuos e infantis, se expressando de forma mais livre com os desenhos e cores, resultando algo que, na maioria das vezes, é menosprezado por um público mais adulto e crítico.



M.R.G: Como é a relação com os autores, editores e com o staff das editoras? 

Cledson Bauhaus: Ainda é o mínimo do mínimo (risos). Sou um aventureiro na área e estou aprendendo a ilustrar e a escrever os meus próprios projetos. Não tenho muito contato com os profissionais deste mercado editorial, com exceção de alguns ilustradores que admiro o trabalho e uma vez ou outra, troco informações via redes sociais ou e-mail. Preciso ampliar a minha rede, aguardando novas oportunidades. 
Minha maior relação ocorreu entre Outubro de 2012 e Maio de 2013 uma autora de Mogi das Cruzes/SP. Ilustrei uma série de 4 livros infantis que seriam publicados via Lei Rouanet, mas que não vingou. Atualmente ela tem procurado formas e parcerias para o projeto que já está pronto, faltando somente o trabalho do editor. Tive o prazer de pegar os 4 bonecos dos livros nas mãos. Foi muito gostoso, mas o sonho maior é ver os livros, depois de publicados, nas mãos da criançada e em rodas de leituras. Afinal, foi feito para elas.
Tenho também muitos amigos que possuem algum tipo de projeto com literatura infantil e juvenil. É bem comum a trocas de vivências sobre o tema. Aprendemos juntos.



M.R.G: Apesar das grandes dificuldades que fazem alguns desistirem do mundo editorial underground, você vem insistindo em produzir ou participar de fanzines. O que te motiva a permanecer neste nicho?

Cledson Bauhaus: Em primeiro lugar eu diria que é por causa liberdade. Em todo segmento, existem regras sobre o que vende e o que não vende. Não há como ser comercial e fugir 100% disso. Uma hora você acaba adequando o seu trabalho por causa de alguma demanda do mercado, do editor, etc. há pessoas que tem muita dificuldade nessa relação. Não é o meu caso, que também sou designer e entendo da mecânica, mas é sempre muito bom você ter o controle da coisa. 
Com o independe, você pode expressar algo com mais liberdade. É uma filosofia anarquista muito difundida no punk, que chegou a mim por intermédio da música e dos fanzines de HQ. Costuma-se dizer “se você não tem uma gravadora para te lançar, faça você mesmo a sua gravação, reproduza os seus CDs, crie o seu canal de comunicação com público, não espere pela grande mídia”. Aliás, essa grande mídia nem interessa a maioria destes produtores do underground. 
Hoje com a internet e o software livre, fica muito mais viável criar o seu espaço de publicação com custos muito menores ou quase zero. Muita gente tem apostado nestas ferramentas, por exemplo, o e-book, a web comics, os blogs, as redes sociais, entre outros. Com isso, pessoas têm saído do anonimato e isso é incrível. Não se espera a oportunidade, mas procura-se criar a própria oportunidade com o esforço. Já com zines e livros independentes, há custos que precisam ser bancados por você mesmo, e isso se torna uma grande dificuldade que poucos podem superar no primeiro contato. Seja qual for o canal, é necessário querer fazer acontecer e não esperar o acaso.



M.R.G: Recentemente aconteceu sua primeira exposição solo. Fale sobre a experiência:

Cledson Bauhaus: “FRAGMENTOS” (nome da exposição) foi realizada na Estação Jovem, em São Caetano do Sul/SP, que é um espaço da Secretaria de Cultura e da Coordenaria Municipal da Juventude desta cidade. A produção ficou por minha conta com o apoio de amigos na montagem e divulgação. Da mesma forma que as publicações que já fiz, a exposição foi realizada no espírito “do it yourself”, sem a formalidade de um museu. Ganhei o espaço, mas foi por minha conta a realização do evento, e como não tenho experiência com curadoria e montagem de exposição, o resultado foi bem modesto. 
A experiência foi similar às outras exposições coletivas. É sempre muito gostoso mostrar os meus trabalhos e interagir com o público. Essa vivência é o que dá sentido para continuar. Não faço arte somente para mim. Com amigos e coletivos que participo (Fanzinada e Manifeste) já passei pelo MASP, MIS, Casa das Rosas, CCSP, Gibitecas (Santos, São Bernardo do Campo e Santo André), diversos ateliês e espaços de cultura alternativa dentro e fora de São Paulo. Tudo no mesmo espírito do “faça você mesmo”. A maior diferença é que havia um espaço muito maior e exclusivo. A exposição reuniu uma série de colagens com estudos do desenho entre os anos de 1999 a 2012 e também ilustrações de técnicas variadas. Meu foco foi maior mostrar os processos de estudo, criação e identidade. Algo que sempre evidencio quando dou aulas em workshop e oficinas. A importância de experimentar. 
Meu maior aprendizado com isso é que não há limites para o artista. É muita besteira ficar deprimindo por não ter o seu trabalho exposto em uma grande instituição. Onde há pessoas, há espaço e relevância para tornar o mundo menos duro com a sua arte, expressar uma ideia, um sentimento, uma mensagem, ou qualquer outra coisa “presa na garganta”. Seja lá qual for o tema em questão, você também pode criar o seu espaço. Observe os amigos de arte urbana e aprenda com eles.



M.R.G: Quais são suas referências?

Cledson Bauhaus: Qualquer coisa pode se tornar uma referência, depende do que você está produzindo. É o que acredito e pratico. Atualmente, procuro não me prender mais a uma temática específica, como já fiz no passado com os mangás. 
Algo que também tenho procurado fazer é expressar a minha cosmovisão por meio dos meus trabalhos. Logo, o cristianismo, puro e simples, é também uma das minhas referências. 



M.R.G: Você tem alguns trabalhos disponíveis na internet, pode indicar para quem quiser conhecer mais o teu trabalho?

Cledson Bauhaus: Meus projetos de ilustração, quadrinhos, exposições e vivências mais recentes podem ser vistos no meu blog: 
http://fabricadedevaneios.wordpress.com/
Há também um esboço do meu projeto de literatura infantil Fabuloso Mundo de Clo:
http://mundodeclo.wordpress.com/
E o portfólio, com trabalhos de design: 
http://www.behance.net/cledson




M.R.G: Uma frase para fechar a entrevista:

Cledson Bauhaus: Faço um recorte de uma leitura bem recente (Poe, a vida brilhante e sombria de um gênio. Jordi Sierra i Fabra) que expressa um pouco da minha realidade e das respostas na entrevista:
"Ser artista é aspirar o perigoso aroma da liberdade ao preço da própria vida".


Aos amigos que têm acompanhado o blog, peço que se inscrevam, comentem e indique para seus amigos.
Abraço, até o próximo post!


Marcio. R. Gotland 
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