18/10/2013

Diálogo entre Pintura e Música


Bom dia tripulantes! Tudo bem?

Faz um tempo que escrevi este artigo tratando de um assunto que considero pertinente: A relação entre a música e a pintura e começo o texto partindo das ideias do pintor Kandinsky. Apreciem!

Diálogo entre Pintura e Música


Os elementos da composição formal da pintura podem ser relacionados com os da composição musical como foi apontado diversas vezes por Wassily Kandinsky em seus estudos sobre o ponto, a linha e plano, além de ser possível comparar o silencio ao espaço vazio. Ambos à disposição do artista que poderá preenchê-los, respectivamente, com sons ou formas gráficas.

“A estabilidade do ponto, sua recusa a se mover no plano ou além dele, reduzem no mínimo o tempo necessário a sua percepção, de modo que o elemento tempo é quase excluído do ponto, o que o torna, em certos casos, indispensável à composição. Ele corresponde à breve percussão do tambor ou do triângulo da música, às bicadas secas do pica-pau na natureza.” [KANDINSKY, 1997, p.27]

É possível existir uma musicalidade na pintura, quando pensamos em seus elementos formais, a posição de um ponto no espaço pode ser trazido ao universo dos sons, uma vez que, um som agudo em relação ao grave, pode ser grafado numa posição alta, basta observar como os sons são representados em uma partitura. Essa relação do tom musical com o espaço pode ser notada também nos movimentos do maestro, quando diante de sua orquestra parece fazer desenhos no ar.


"Os graus de intensidade, do pianíssimo ao fortíssimo, podem encontrar seu equivalente no crescimento ou decrescimento da linha, ou então em seu grau de clareza." [KANDINSKY, 1997, p.86]

Mas, a musicalidade na pintura não está presente apenas numa relação formal, há obras musicais que inspiram pintores e há pinturas que inspiram músicos. Imagens podem ser, interiormente criadas, a partir de uma música e a música pode tocar na alma quando uma pintura é observada. Diante de uma pintura de Carybé, é provável que o axé ou o samba seja trazido para completar o momento, no entanto, este ritmo pulsante da musicalidade brasileira será contraditório como som ambiente do Violino de Picasso.

Apesar de estudiosos defenderem a importância da imagem, destacando que 82% do conhecimento informal é gerado através dela [BARBOSA, 2002, p.20], não se pode desconsiderar o uso dos outros sentidos, ou da importância dos 18% restantes. Kandinsky aconselha a mergulhar na arte com todos os sentidos:

"temos a possibilidade de penetrar na obra, de nos tornarmos ativos nela e vivermos sua pulsação por todos os nossos sentidos." [KANDINSKY, 1997, p.10]


É dessa forma que o mundo deve ser lido, a qualidade da leitura da realidade é que definirá a qualidade da experiência, a noção de presença na realidade será proporcionada pela percepção, fazer-se presente é perceber a possibilidade de agir no mundo, é entender sua abertura, como realidade viva em transformação contínua: "Um quadro de Kandinsky é apenas um rabisco incompreensível e insensato, até que entre em contato com o tecido vivo da experiência do "fruidor" e comunique seu impulso de movimento: não é um modelo, é um estímulo." [ARGAN, 1992, p.321]

Finalizando, a música tem sido apresentada de diversas formas pelos artistas plásticos, alguns retratando o momento em que o músico está em ação (O violinista, Marc Chagall), uns retratando apenas os instrumentos, outros tentando expressar a sensação musical de forma plástica (Concerto nº1Piano e Orquestra, Aldo Bonadei ) e há os que fizeram uma relação explícita entre a música e a pintura. No entanto, não é difícil perceber a música que algumas pinturas evoca, são pinturas que trazem sensação de alegria e de vida, de movimento e de pessoas, exemplo são as pinturas Moulin de la Galette  de Renoir e A la Mie  de Toulouse-Lautrec, em sentido oposto, pinturas como A Catedral de Chartres  de Maurice Utrillo, com tons pasteis e terrosos, mostrando a cidade vazia e melancólica, são capazes de provocar o silencio.



Referências:
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1990
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 5ª Edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002
BUORO, Anamelia Bueno. O olhar em construção  Uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola – 6ª Edição  Cortez Editora: São Paulo, 2003
KANDINSKY, Wassily. Ponto  e linha sobe plano, Martins Fontes: São Paulo, 1997
__________________. Gramática da Criação, Edições 70: Coimbra, 1998



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Abraços e até o próximo post!
Marcio. R. Gotland 


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