05/12/2009

Delara Darabi e o encontro com a morte



Quem nunca ouviu dizer que a única certeza que se tem da vida é a morte? Como as pessoas lidam com esta incerteza? Todas as buscas da humanidade tiveram como objetivo primordial o controle sobre os fenômenos, a transformação do desconhecido em códigos decifráveis. E como lidar com a idéia de deixar de existir na terra como um ser que transforma, constrói e que dá os passos a partir de objetivos? A forma mais cruel em que a morte se apresenta é aquela que poda os planos pela metade, como um machado que corta a árvore antes que ela dê seus frutos. O que pensar dos poetas que levam suas poesias para o túmulo? Dos artistas que não podem exteriorizar suas criações? Daqueles que portam a solução para os problemas dos homens, mas a morte, com seus caprichos, os silenciam?
Sentir-se distante da morte é ter a sensação que tivera Dorian Gray, a criatura de Oscar Wilde, diante de seu próprio rosto no espelho, sem uma ruga, um sinal do tempo, sem o aviso fatal que a morte dá de sua proximidade. Lorde Wotton bem lhe avisou:

"Um dia, quando estiver velho, enrugado e feio, quando o pensamento lhe houver traçado vincos na testa e a paixão tiver lhe crestado os lábios com o seu fogo detestável, terá a impressão que agora não sente; uma impressão terrível."



Será a morte a traição da vida? A vida faz tantas promessas, mas, só a morte pode cumprir seu destino. Delara Darabi deve refletir sobre isto todo dia, com seus vinte anos e desde os dezessete no corredor da morte, sentenciada ao enforcamento pela lei iraniana por assassinato. Delara afirma ser inocente. Através da arte Delara mostra ao mundo o que é estar a um passo da morte. Quando a morte é mais certa do que aquela que certamente todo homem espera. Sua obra mostra homens que tem como apoio um fino e frágil fio, esta é a vida que tem a sua volta um grande vazio, a morte que espera que o fio se quebre. No entanto, enquanto Delara tem o fino fio pra segurar, exerce a fugaz liberdade através da sua desesperada pintura.


2007© Marcio R. Gotland
Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Postar um comentário