“Zé, ocê vai ver cumo si mata uns macacos dus inferno”.
Olá tripulantes! Tudo bem?
Fiquei alguns dias sem passar por aqui, pois, estava concluindo duas ilustrações, uma delas, capa para um conto de um autor talentoso que será publicado em breve, aguardem! Mas, não poderia ficar muito tempo distante e estou aqui mais uma vez, postando um artigo que fala de História em Quadrinhos. Espero que gostem!
O Cangaço e as Histórias em Quadrinhos
Não se sabe ao certo se a abordagem do cangaço nas história em quadrinhos brasileiras tinha objetivos políticos definidos, no entanto, fica aparente que a busca de um personagem tipicamente brasileiro como Lampião, o maior representante do Cangaço é também a busca de uma identidade nacional para a produção de quadrinhos em oposição aos modelos e estereótipos legados pela cultura norte-americana com a difusão de seus super-homens, Batmans e Capitães América.
As muitas histórias em quadrinhos que abordam o cangaço possuem características de narração, diagramação e imagética diferentes. Alguns artistas, mais interessados em produzir um trabalho com características nacionais buscaram, também, reproduzir o cangaço a partir de suas representações na literatura de cordel e em outras produções folclóricas do nordeste. Outros, influenciados pelo mercado, utilizaram a temática, mas, mantiveram o estilo norte-americano de produzir quadrinhos.
Em 1938 Euclides Santos produziu para o Jornal Noite Ilustrada a HQ Vida de Lampião, considerado uma das primeiras produções de quadrinhos sobre o cangaço. Raimundo, o cangaceiro foi criado em 1953 por José Lanzelloti, seu desenho e diagramação aponta uma influência de quadrinhos norte-americanos. Raimundo, entra para o cangaço aos 17 anos para vingar a morte de seus pais, com um forte senso de justiça é cruel e implacável com os ricos e preocupado com os pobres. Em uma de suas façanhas doma um cavalo na cidade de Nazaré e prova para os moradores da cidade que o cavalo maldito não tinha nada de sobrenatural.
Em 1954 André Le Blanc adapta para os quadrinhos o livro de José Lins do Rego em seu trabalho Cangaceiros. Em 1957 Edmundo Rodrigues cria Jerônimo, o herói do sertão, Edmundo estudou Comics (História em Quadrinhos) na Escola Continental de Hollywood e talvez se explique aí a forte influencia que os quadrinhos yanques exerceram em sua produção.
Em 1970 o cartunista Henfil produziu Zeferino e Graúna, Capitão Zeferino é um cangaceiro nordestino e Graúna uma ave da caatinga, Henfil foi um militante engajado na política enfrentando a ditadura e lutando em prol de eleições diretas.
Henfil teve um estilo único e inconfundível e seu personagem lutava contra a repressão da ditadura e seu trabalho tinha objetivos pedagógicos como ensinar o povo a votar consciente. O Capitão Zeferino é a representação da luta do povo oprimido contra o poder, um resgate da coragem e honra do cangaço que deveria ser as qualidades de todo o brasileiro contra a opressão política da ditadura.
Em 1976 Jô Oliveira produz Os quatro cavaleiros do apocalipse, este ilustrador pernambucano que em 2001 produziu A guerra do Reino Divino explorando novamente o imaginário nordestino e o cangaço demonstra uma liberdade gráfica ao utilizar como referência o desenho das artes populares nordestinas. Em seu trabalho consegue fugir dos estereótipos dos comics apontando caminhos para um trabalho de características da cultura nacional.
Em 1988 Emanoel Amaral e Aucides Sales criam O ataque de Lampião a Mossoró e em 1994 com roteiro de Ataíde Braz e desenho de Flávio Colin é publicada Mulher-Diaba no rastro de Lampião, nesta história em quadrinhos uma mulher que foi atacada por cangaceiros de Lampião faz pacto com o demônio pra ficar com o corpo fechado e vingar o que lhe foi feito. E em 1997 Rubem Wanderley Filho produz Lampião em quadrinhos, lançado com apoio da Lei de Incentivo a Cultura, este trabalho é também um trabalho de pesquisa, é possível reconhecer em suas páginas o Rio São Francisco, a cidade Lapinha das Piranhas, seu desenho é uma mistura do quadrinho europeu com a xilogravura nordestina.
E em 2004 foi lançado, com roteiro de Haroldo Magno e desenho de Edvan Bezerra a revista independente Sertão Vermelho, Lampião em quadrinhos, esta produção mostra um Lampião bandido e cruel, narra seus relacionamentos amorosos, sua relação com os companheiros de bando, seus confrontos com a polícia, é um trabalho baseado em pesquisas bibliográficas, os desenho valem por ter influencias do trabalho de Flávio Colin. A seqüência deste quadrinho foi lançado em 2005, Sertão Vermelho 2, Lampião em quadrinhos teve, além de seus autores, a participação dos renomados quadrinistas brasileiros Júlio Shimamoto e Eugenio Colonese. Nesta edição aparece o Padre Cícero e o cangaceiro Corisco. Um outro ponto importante é que os autores mantiveram a fala “nordestinês” com frases como “Zé, ocê vai ver cumo si mata uns macacos dus inferno”.
Estes são apenas alguns exemplos, em uma rápida pesquisa na internet é possível encontrar outras histórias em quadrinhos nacionais que têm por tema o cangaço, mostrando a força que as imagens deste movimento têm no imaginário não só nordestino, mas brasileiro.
Referências:
GUIMARÃES, Edgar (Org). O QUE É HISTÓRIA EM QUADRINHOS BRASILEIRA, João Pessoa: Marca da Fantasia, 2005;
SÁ, Antonio Fernando de Araújo, O CANGAÇO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, Painel, 53ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Universidade Federal da Bahia, Salvador: 2001
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Abraços e até o próximo post!
Marcio. R. Gotland
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